domingo, 1 de maio de 2011

Eu


Eu me caçando entre tudo que vejo.
Tentando me ouvir em vozes estranhas.
Eu debruçada na janela, da casa que fica na rua escura,
Onde na esquina um casal se extravia.

Eu assistindo o dia em que vagarosamente,
Desmancha a noite.
Afogada nos meus pensamentos.
Eu arranhando lembranças e torcendo e retorcendo os conceitos.

Eu procurando razões onde há impasses,
Matando na unha o que não importa,
Eu me acabando em mim.
Eu fui um molde, fui estátua e
Fui um templo que jamais serei.

Um templo de mim, onde guardo
Todos os templos do mundo.

Eu admirando o banco da praça
Ao invés da flor do jardim.
E na mesma intensidade invejando o ‘hippie’,
Revolucionário nômade, e o oportunista amontoado em bilhões de dólares.

Eu ironizando a tese sobre a minha própria vida.
Acompanhada de um copo de cerveja e um cigarro,
Indagando meu destino, e aprimorando a arte do questionamento.

Eu nas rodas discursivas, debatendo a psicanálise, a prolixidade, Vênus, a metamorfose,
O sexo e o rosto das pessoas.
Eu morrendo antes de morrer,
Nascendo depois de viver.


Apagando os cigarros e dormindo cedo.
Eu amassando feras. Todas elas.
Corroendo com as traças, coisas que ficaram jogadas em velhos baús.

Eu monitorando as atitudes a minha volta.
Insana. Propícia e tendenciosa, ao lado mais avermelhado e aveludado de ser.
Eu sangrei agonia e desconforto.

Eu em movimento.
Fiz-me.
Instintiva e sem nenhuma pretensão de ser correta.
Eu anunciando rupturas de elos que me afastavam de mim.

Eu retirei a ênfase dada aos ultras passos.
Mantive-me viva num mundo de mortos.
Comi as idéias e mastiguei as insinuações.
A indigestão ensina muito.

Transformei uma coisa em outra.
Isso em aquilo.
Sem saber como pode ser tudo, o que nada é.
Eu me esfoliando e esfolando tudo:
Cérebro, coração, e garganta.

Eu não me defino. Não me explico.
Retruco, renego, e apelo.
Eu de braços dados ao meu paladar e os sentidos aguçados.
Tudo sob alerta. Tudo sobre mim.

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